sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Última Carta

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Fulano,
A intenção era magoá-lo. E nem ousarei pedir desculpas porque, além de não querer, elas soariam ridículas e ainda mais ofensivas do que minhas ações supostamente infantis.

Você mereceu. Essa é a verdade. Existe um momento em que tudo de agradável que fizemos um ao outro desaparece, e em seu lugar surge um ressentimento aniquilador que traga o passado distante e só mantém vivas as cenas finais. Aquelas cenas finais.

Tudo já passou, é certo. Mas, assim como uma farta refeição mexicana, demorará pra ser digerido. Enquanto o processo se completa, sua imagem virá à minha mente como o gosto azedo de guacamole subindo pela garganta. Totalmente indigesto.

Escondi minha raiva pelas suas derrapadas, omissões antes eventuais e então perenes. Não disse o que me aborrecia com medo de desandar as coisas entre nós, sem notar que já não existia 'entre nós', só entre mim e alguém que se esqueceu de apagar a luz ao sair para deixar evidente o abandono do recinto.

Antes que me esqueça: a maior vitória disso tudo não foi triturá-lo. Foi descobrir que não me basta viver ao lado de alguém emocionalmente surdo e cego, nutrindo-me de expectativas malogradas. Como li em algum lugar: 'Eu não chorei por você. Chorei por uma idéia que fracassava. Por uma idéia que, num minuto, parecia ter futuro'.


Não importa se tenho razão ou se meus motivos são fortes o suficiente pra dizer o que digo. Aprendi algo importante desde que nos separamos: fome e dor não se medem - cada um tem o seu limite. Passei muito tempo com o meu à beira do insuportável (por burrice minha, óbvio).

Por que escrevi isso? Nâo sei, talvez isso conseguirá algo que eu já não conseguia e que me massacrava: surtir algum efeito em você.


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A. [modificado]

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