sexta-feira, 20 de março de 2009

A Grande Descoberta

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-Descobri! Descobri!
-O quê?
-O que eu quero de um homem. Eu finalmente descobri.
-Um filho.
-Não! Eu achava que era…mas no momento não tenho saco nem pra imposto de renda uma vez por ano, vou ter pra filho a vida toda?
-Alguém pra trepar domingo...sabe aquele tesão ridículo que dá ler um livrinho depois do almoço?
-Isso é umas. Mas não é isso.
-Não vai me dizer que é dinheiro.
-Não, isso é bom pra fazer piada em roteiro. Mas na vida real me dá bode.
-Alguém pra ficar na salinha de espera do Samaritano enquanto o médico tenta separar seu dedão das costas da mão, pós surto de ansiedade?
-Isso também parece ser algo lindo enquanto se luta por, mas quando se consegue, a vida fica chata que só.
-Cinema?
-Prefiro ir sozinha. Juro. É bizarro. Mas adoro ir sozinha ao cinema.
-Sair da toca protegida?
-Prefiro sair com as minhas amigas. Com homem o bom é ficar na cama, sair é pra caçar homem, o que não faz sentido com um.
-Jantar?
-Então, eu não como desde 2004.
-Amar?
-Hmmmm, eu já dedico isso inteiramente a mim e estou longe de me dar o suficiente.
-Então eu não sei.
-Eu quero tratar mal. Eu quero tratar mal. Eu quero tratar mal. Eu quero tratar maaaaaaaaaal !!!!!!!!!!!
-Esse é o problema das mulheres.
-Querer tratar vocês mal?
-É, só querer. A gente vai lá e trata. Fim da obsessão.

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HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

[Tati B.]

terça-feira, 17 de março de 2009

Crônicas do Amor

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Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

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[titio Arnaldo Jabor. ♥]

Silêncio.

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Disse pra mim. Nenhum pio. Não vou falar nada. Já que sou tão imprópria, inadequada, boba. Já que nunca basto e se tento me excedo. Já que não sei o que deveria ou exagero em querer saber o que não devo. Nunca entendo exatamente, nunca chego lá, nunca sou verdadeiramente aceita pela exigência propositalmente inalcançável. Meu riso incomoda. Meu choro mais ainda. Minha ajuda é pouca. Meu carinho é pena. Meu dengo é cobrança. Minha saudade é prisão. Minha preocupação chatice. Minha insegurança problema meu. Meu amor é demais. Minha agressividade insuportável. Meus elogios causam solidão. Minhas constatações boas matam o amor. As ruins matam o resto todo. Minhas críticas causam coisas terríveis. Minhas palavras cuidadas incomodam. Minhas palavras jogadas, mais ainda. Minhas opiniões sempre se alongam e cansam. Minhas histórias acabam sempre no egocentrismo ou preconceito. Meu sem fim dá logo vontade de encurtar. Minha construção, desconstrói. Meus convites quase nunca agradam. Meus pedidos sempre desagradam. Meus soquinhos de frases são jovens demais. Meu bombardeio de coisas sempre acaba em guerra. Minha paz que viria depois nunca chega, pois eu nunca chego. Minha voz doce assusta. Minha voz brincalhona é ridícula. Minha voz séria alarde. Nenhum pio. Disse pra mim. Falar do que sinto é, na hora, desintegrar com seu olhar. Então fico me perguntando sobre o que deveria dizer, se só sei o que sinto. Devo sentir por personagens de livros, filmes, jornais e ruas? É assim que se diz sem ser o que não importa de verdade? E se for o contrário? Mas pra dizer do contrário, fica sempre no ar, é melhor não dizer. Se digo algo sobre minha vida, só sei falar de mim. Se digo algo sobre a vida dele, coitada de mim, achando que sei alguma coisa da vida. Se falo sobre a vida dos outros, que papo furado é esse? Se falo sobre coisas me sinto mais uma delas. Se provoco, eu que provoque sozinha porque ele não é trouxa de cair. Sobre livros, nunca são os que interessam. Sobre minha reportagem, nem quis ler. Meu trabalho nunca foi e nunca será da mulher dos sonhos. Meus sonhos evito falar, um medo de ser menina. Quieta. É assim que será. Se digo certo, isso logo acaba. Se digo certeiro, acabou. Se digo errado, nunca acaba. Se eu for mulher, mulher é um saco. Se eu for homem, homem só existe ele. Se eu for criança, fale com sua analista. Nenhum pio. Combinei comigo. Falar da gente pode? Pode, desde que, depois, eu tenha estrutura para ver toda uma massa desistente desabando sobre meu sofá pequeno. Nadinha. Não vou falar nada. Sobre dor não toca. Sobre prazer toca pouco. Nada. Porque toda vez que eu pergunto, quase ofende. E se respondo, ofende mais. E se exclamo, minha vontade de viver soterra. E se são três pontinhos, não posso. Se começo preciso terminar. Mas quando termino, ele já não está mais. Se repito, quase explode. Se digo uma, sou boa de ser guardada em algum lugar que nunca vejo. Se não explico, pareço louca. Se explico, sou louca. Quieta. Isso! Você consegue! Se for o que eu penso, eu penso errado. Se for o que eu não penso, errei por não pensar. Se não for nada disso, eu que pensasse antes. Se estou animada, cuidado com a rasteira. Se estou desanimada, não tem mão pra levantar. Nada. Não vou sussurrar. Nem gemer. Nenhum som. Respiração muda. O silêncio absoluto. Olhando pra ele. Lembrando de quando ele me disse que é no silêncio que se sabe a verdade. E a verdade chega como um teto gigante que desaba numa cabecinha de vento. O que eu mais temia. O que eu não queria descobrir. Ela me diz. E o pior é que eu nem posso falar por ela. É tudo mentira.

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[Guess who! :)]

segunda-feira, 2 de março de 2009

Clarisse L.

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Já escondi um amor com medo de perdê-lo,
já perdi um amor por escondê-lo
.
Já segurei nas mãos de alguém por medo,
já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida,
já me arrependi por isso. Já passei noites chorando
até pegar no sono, já fui dormir tão feliz,
ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos,
já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram,
já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei horas na frente do espelho tentando
descobrir quem eu sou!
Já tive tanta certeza de mim,
ao ponto de querer sumir...
já menti e me arrependi depois,
já falei a verdade e
também me arrependi.

Já fingi não dar importância
às pessoas que amava,
para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza,
já chorei de tanto rir...

Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
já deixei de acreditar nas que realmente valiam.

Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.

Já senti muita falta de alguém,
mas nunca lhe disse.


Já gritei quando deveria calar,
já calei quando deveria gritar
.
Muitas vezes deixei de falar o que penso
para agradar uns, outras vezes falei o que
não pensava para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns,
já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça,
apenas para ver um UM AMIGO FELIZ.

Já inventei histórias com final feliz para dar esperança
a quem precisava. Já sonhei demais, ao ponto de
confundir com a realidade. Já tive medo do escuro.

Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer,
já me reergui inúmeras vezes
achando que não cairia mais
.

Já liguei para quem não queria
apenas para ligar para quem realmente queria.

Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo
de um pesadelo, mas ela não apareceu
e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de "AMIGO" e
descobri que não eram. Algumas pessoas nunca
precisei chamar de nada e sempre
foram e serão especiais para mim.

Não me dêem fórmulas certas, porque eu não
espero acertar sempre... Não me mostre o que
esperam de mim, porque vou seguir meu coração!

Não me façam ser o que não sou,
não me convidem a ser igual,
porque sinceramente sou diferente!

Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras,
não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não
serei a mesma pra SEMPRE!

Você pode até me empurrar de um penhasco
que eu vou dizer:

- E daí? EU ADORO VOAR!

-

(Clarisse Lispector)