sábado, 27 de dezembro de 2008

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Ele vem cheio de cigarros, músicas, doenças e interpretações perfeitas a respeito da minha maluquice. E se esforça pra focar em mim, porque, assim como eu, ele gosta mesmo é de falar de si. E ligo pro velho amigo de sempre. E ele vem correndo, segurar meu coração, aliviar meu pescoço e dizer que nada mudou, foram 56 mil anos mas nada mudou. Ele ainda está aqui pra mim.
E assim consigo dormir mais um dia, passar mais um dia, viver mais algumas horas, sem ligar pra única pessoa que eu queria ligar. Consigo seguir em frente mais um dia sem ligar pra ele. Consigo distrair meus dedos, minha mente, meu peito, minha violência, meu buraco, minha vertigem, meu soco no estômago, meu desespero, meu automático, meu extinto contrário, minha curiosidade infantil mas sempre com resultados duros demais para uma criança, minha vontade de enfiar o dedo na tomada só pra sentir a descarga mortal que tanto parece com impulso de vida. Consigo distrair os batimentos cardíacos que sinto em lugares do meu corpo que ainda queriam mais um toque dele. E partes da minha pele que saem buscando porque ainda não receberam a informação do fim, o sangue ainda não levou a má notícia para meu corpo todo. E consigo distrair minhas roupas, que querem se mostrar, cada dia uma diferente, para ele. Só para ele. E distrair meus ouvidos loucos pela sua voz. E distrair meus pés loucos pra encaixar atrás da sua batata da perna. E distrair minha língua, querendo decodificar e marcar cada centímetro das suas estranhezas. E distrair a crença cansada, a saudade renegada. Distrair essa sobrinha de você que continua enorme, mesmo sendo, agora, uma sobrinha.
A conta vem cara, os amigos são muitos, as risadas invadem, o sofrimento dissipa. Eu sigo. Eu sigo sem ligar. A mão captura rápido o celular, eu começo a colocar o número dele. Mas passa. Ligo pra outro. E outro. E outro. E passo mais um dia sem fazer o que eu sei que não devo. Tudo o que ainda pensa e se preserva em mim grita e eu escuto. Sem cabimento, sem história, sem motivo, sem eco, sem colo, sem cumplicidade, sem acolhimento, sem nada. O que mais eu quero ouvir? O que falta para eu entender que acabou? Que dor falta sentir? Que parte do meu conformismo estava de férias essas semanas? O que falta viver em cemitérios abandonados? O que falta sentir em peitos esfaqueados? O que falta amarrar nesse emaranhado de fios dilacerados que eu virei? O que falta amar em olhares escondidos? O que falta acreditar quando a verdade é tão absurda que ocupa tudo? Não passo de uma força descontrolada que vai dar com a cara na parede branca, dura e incorruptível. Não ligue! Ligue para o mundo inteiro, encha o mundo inteiro, canse o mundo inteiro, ame o mundo inteiro. Vamos, mais um dia. Tente mais um pouco o resto. Daqui a pouco, esse resto vira rotina. Esse resto vira tudo. E ele será resto. Mais um pouco. Vamos, se esforce. Use essa violência para construir uma parede e não mais para sair esmurrando outras paredes por aí. Vamos, não ligue. Daqui a pouco isso se perde, como tudo. Como todas as pessoas fazem. As pessoas fazem isso, e seguem, equilibradas, frias, certas, velhas, assustadoras. Você pode ser como elas. Você é como elas. Não, você não é. Mas foda-se. Mesmo assim, não ligue. Nunca mais.

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[Tati B. - modificado]

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vazio.

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Fui na Bienal hoje. Tem um andar inteiro vazio. Parece comigo. Eu tenho um andar inteiro vazio. Os meus cinqüenta e oito andares estão vazios. Está tudo vazio.
Eu queria avisar as pessoas que eu era a melhor instalação da Bienal. Veio ver o vazio? Olhe pra mim. Não tenho nada dentro de mim. Nada. Não tenho vontade nenhuma de lutar por você, mas também não tenho vontade nenhuma de não lutar. Não espero nada, mas também não espero outra coisa nenhuma. Eu não tenho nada. Eu perambulo por aí, atendendo meus 78 mil amigos e odiando ver o nome de cada um deles no visor do meu celular. Todos divertidos, leves, incríveis, amigos. E eu cagando um mundo pra toda essa merda.
Aí na Bienal fiquei sabendo que uma professora enlouqueceu e jogou umas fotografias lá pra baixo. Ninguém entendeu nada. Mas eu acho que entendi. O vazio dá desespero, cara. Dá um desespero filho da puta.
O vazio dá um desespero silencioso. É como se o tempo jogado no lixo batesse sutil, num relógio esquecido em algum canto do quarto, que você só descobre quando está muito de madrugada e ao longe você escuta aquele tic,tac,tic,tac. Um batida que quase não existe. Você não sabe se é o tempo sendo contado pra você ou o seu coração contando você pro tempo. Um desespero sem cara de desespero. Mas que é desespero puro. A pior espécie dele.
Aquele tobogã da Bienal...que porra é aquela? Sofrer anda tão sem graça que mergulhar no vazio tem fila e casal de mãos dadas.
Tem três seguranças no andar vazio da Bienal. A vida anda tão sem graça que até o nada corre risco de ser roubado. Até porra nenhuma precisa de vigília. E eles com aquela cara brava, fechada. Uma cara familiar pra mim. Da pessoa que protege o nada como se fosse a única coisa que ainda restou. Um egoísmo em dividir o nada e ver ele virando alguma coisa.
Ai que dor. Que dor. Que merda. Que lixo. O andar vazio da Bienal tem cestos de lixos espalhados. A vida anda tão chata que nem o nada pode sujar. Eu queria ter gritado. Eu queria ter essa cara de pau. E ter berrado no meio do andar vazio da Bienal. Um grito de nada. Pior é que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silêncio, meu conformismo, minha aceitação, minha quase maturidade.
Eu tenho a impressão que a hora que eu chorar, vai ser das coisas mais tristes do mundo. Mais triste que aquelas crianças carentes correndo pelo vazio da Bienal. Mais triste que o sol frio entrando pelo vazio da Bienal. Mais triste que a mulher tirando foto do marido descendo no tobogã da Bienal. E aquela bandinha que fica embaixo do pão de queijo. E o velhinho com uma ave azul no ombro. Mais triste que os gringos tirando fotos com as crianças carentes correndo ao fundo do andar vazio da Bienal. No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lágrimas que inundam todos os meus andares vazios. A hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo.

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[Tati B.]

domingo, 21 de dezembro de 2008

Drogadita do Amor

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Alto, alto, alto. Subir, subir, subir. Ele disse uma frase certa, eu subo. Ele me olha do jeito certo, eu subo. Ele faz tudo errado e do jeito dele, eu subo também. Já não vejo mais o que ele diz e nem como ele faz, imagino, ele, assim, passível da minha imaginação. E eu subo, subo, subo. Não me deixe cair. Continue aí, não se mexa, repita aquela frase, com sua voz, perto do meu ouvido. Continue aparecendo nos mesmos horários e apenas some horas, jamais as tire de mim. Continue me amando como no primeiro minuto e ame mais e mais, jamais me tire amor. Mais, quero cheirar mais, aspirar mais. Não me deixe cair. Continue aí, não se mexa. Mais, mais, eu quero mais. Alto, alto, alto, só sei viver aqui. O resto dos dias e dos meses e de tudo, é espera. Espera para subir. Eu só sei viver aqui. Uma frase que leio e então eu subo. Um filme que vejo e então subo. Uma música. Um ódio também. Uma possibilidade de ser bicho e sentir as coisas assim desenfreadas e naturais e descabidas e violentas. E então eu subo. Vejo que a vida está prestes a ficar mais uma e então eu causo. Eu lambo as pessoas. Eu ofendo as pessoas. Eu desapareço. Eu apareço sem avisar. Me desculpem, mas é assim que a vida volta. É assim que sinto a vida e não apenas as paredes da minha prisão nesse corpinho que eu nem sei se escolhi. É assim que volta a doer tudo, as tripas e seus nós, os fígados e seus medos, os corações e seus tamanhos além do espaço que deram pra gente. Eu tenho medo do chato, da hora de ir embora, eu tenho medo dos minutos do dia que não poderiam estar nesse filme que congela a respiração num susto longo, eu tenho medo dos casais que andam comportados e podados e agendados e controlados e casados. Não me deixe cair. Continue me dando vida, vida. Não quero, não sei viver, assim, em dias que se arrastam com suas burocracias de papéis cortantes, delicadezas vazias, obrigações sem talento e esforços sobrenaturais para não doer os outros. Uma vontade horrorosa de não existir mais. Não morro. Insisto. Daqui a pouco subo de novo. Um novo moço, um novo filme, uma nova história, ele de novo, como eu queria, ele de novo, e de novo e de novo, eu só queria ele de novo e de novo e de novo e de novo e de novo e qualquer coisa que me tire da espera e me leve pra onde não agüento. Minha vida é estar entre a espera e o lugar alto do qual tenho vertigem. Não sei viver em lugar nenhum. Mas a vertigem, a vertigem, que maravilhoso que é quase morrer de tanto que se está vivo. Que maravilhoso que é poder se estatelar de vida e não de tédio. Sou uma drogada. Sou uma viciada. Preciso de ajuda, de médico, de remédio. Porque sou tão viciada em sentir esse torpor que todo o resto dos dias não passam de uma merda completa e uma espera insuportável. E a maneira dele falar, me olhar, e as coisas que ele vai saber e dizer. E então eu subo. E como ele se movimenta e então eu subo. E como ele diz que quer fazer e faz e eu subo. Não me tire daqui, não sei viver, sim, é infantil, mas decidi ser infantil, armei toda a minha vida em volta do meu maior desejo que é ser infantil. E de novo, de novo, de novo, igual pedem as crianças. Quem não quiser brincar, apertar o play, jogar o jogo, apertar de novo o último andar, que morra estatelado do alto da minha vontade de sentir a vida. De novo eu quero girar. De novo eu quero ser virada de ponta-cabeça. De novo empurra forte a balança, o carrinho, tudo. De novo, de novo, de novo. E mais e sem fim e insuportavelmente muito. De novo. Mais brinquedo, mais amor, mais desespero. Eu quero sentir desespero. Eu quero cheirar mais, aspirar. Não me deixe cair, eu só sei viver aqui em cima. É frio, solitário, me dá sopro no coração, vontade de vomitar, sensação de morte, não como, não durmo, não sei, mas é aqui que sei viver. E de onde tudo fica valendo a pena. Me deixe ficar aqui em cima, mais e mais e mais. Eu sei, ninguém agüenta, todo dia, toda hora, eles querem subir, e me dão suas mãos calejadas, me leve com você, e eu levo, e eu levo eles comigo, lá pra cima, onde tudo dói tanto e ao mesmo tempo alegra além da vida. Mas eles pedem pra descer. Homens precisam estar no controle e precisam trabalhar e precisam sentir a vida rasteira e gostar dela, pra se libertar dessa vida fugaz e maravilhosa e terrível que sentem comigo, precisam raspar a sujeira de bosta dos sapatos no chão áspero. E eles pedem pra descer. E eu preciso estar no alto, congelada de frio e sozinha e filha da “putamente” congelada de frio e sozinha de novo. E então abro as mãos. Caiam. Vocês, meus amores, todos vocês, tão amados, todos vocês, que já viram esse descontrole meu, essa dor minha, esse desejo, vocês, queridos, meros traficantes, meros entregadores, meros fornecedores da minha droga. Apenas isso. Daqui a pouco vem outro e outro e outro. E nenhum fica. E sim é culpa deles. E minha. E da vida. Não existe culpa, existe apenas meu tempo e meu espaço que de tão corridos e altos não cruzam ninguém muito tempo, apenas dão uma ou outra breve carona no meu carrinho da montanha russa. Empresto vida demais pra quem me empresta um pouco sequer de vida. Preciso do disparo, de uma única bala e então acordo e saio chacinando tudo. Morra chatice de vida que vou levando ao lado dos que vão levando. E subo. Só sei viver d aqui. Desse lugar irreal e infantil e ridículo e absurdo. Esse lugar que defendo tanto com meus enormes dentes e unhas da cor pink. Como é triste e absurdo e solitário defender um lugar que não existe e que eu própria não tenho músculos e nem fé para suportar. Eu defendo o lugar do qual não pertenço, mas pra onde eu tenho eterna passagem comprada e cancelada e comprada e cancelada. A espera de alguém que não vá embora, que agüente, que divida meu desespero ou apenas o suporte. A espera da pessoa que suba comigo e fique comigo lá em cima, me ensinando a viver lá de cima. A espera da pessoa que faça aqui embaixo ser algo tão bom que eu não precise mais brincar de assassina de tudo e de mim mesma. A espera da pessoa que não morra quando jogada da minha janela altíssima. E suba de novo. Ou não caia. Entenda que minha porrada não era para jogá-la do alto mas apenas porque estar no alto é se debater em tudo. E volte. E fique. E me deixe aqui em baixo. E me deixe aqui em cima. A espera eterna de mim mesma na versão que faz dar certo. Subir, subir, subir. Venham fornecedores, venham. Meros e caríssimos fornecedores. Minhas gasolinas do parque de diversões. Meus amores. Meu amor. De novo, meu amor. De novo. De novo. Subir. Subir. Subir. Me traga a minha droga antes que eu cheire coisas mais burras e mais feias e mais baratas e mais sem graças e mais menos qualquer coisa e sinta a pior ressaca do mundo que é a ressaca da droga fraca. Me traga, vamos girar forte, subir muito alto, olhar todo mundo lá de cima e o medo de cair, o medo de despencar, as coxas flácidas, os olhos esbugalhados, caveiras cheias de uma vida que de tão louca nem existe nesse mundo. Subir, subir, subir. De novo, de novo, de novo. E cair. E cair gostoso. No fundo, eu gosto é de cair gostoso. Gostoso. Porque cair é subir de novo, estar lá em cima, alto demais, é apenas gritar, alto demais, e não ter ninguém pra ouvir. Socorro. Socorro. Socorro.

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[Tati B.]

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Pure Hate

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Encetou!
A furia que sai dos meus pulmões fogo que consome teu som de tolo pertuba a mente dos fracos que nunca olham pros lados. Queima essa ignorância que te domina, foge dessa porra que só fode, te leva pra lona, te pisa e te soterra, te levanta pros que te exploram!
Ódio!
Combustível pra minha reação
Matar ou morrer por mim!

Podridão que abarca impregna minha roupa e minhas narinas vou vomitar tudo de volta em você!
Dor!
Agora estás como merece!
Atolado na própria merda até o pescoço sem conseguir acenar pra quem se diz teu amigo
Veja eles fugindo.
Cores e promessas jogadas a se camuflar
Vamos chutar tua cabeça até o jogo começar, até esse lixo com idéias fúteis do pescoço se soltar!

O funeral não vai ser necessário.
Porcos sedentos comem da tua carne, bebem do teu sangue, deliciam tua pobre cabeça vermelha e do estomago das feras tu vais de figurado a literal seu bosta!


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[HUGO *---*]


[Porque eu TINHA que copiar! *-*]

Beijo, Hugo! :}

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