segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vazio.

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Fui na Bienal hoje. Tem um andar inteiro vazio. Parece comigo. Eu tenho um andar inteiro vazio. Os meus cinqüenta e oito andares estão vazios. Está tudo vazio.
Eu queria avisar as pessoas que eu era a melhor instalação da Bienal. Veio ver o vazio? Olhe pra mim. Não tenho nada dentro de mim. Nada. Não tenho vontade nenhuma de lutar por você, mas também não tenho vontade nenhuma de não lutar. Não espero nada, mas também não espero outra coisa nenhuma. Eu não tenho nada. Eu perambulo por aí, atendendo meus 78 mil amigos e odiando ver o nome de cada um deles no visor do meu celular. Todos divertidos, leves, incríveis, amigos. E eu cagando um mundo pra toda essa merda.
Aí na Bienal fiquei sabendo que uma professora enlouqueceu e jogou umas fotografias lá pra baixo. Ninguém entendeu nada. Mas eu acho que entendi. O vazio dá desespero, cara. Dá um desespero filho da puta.
O vazio dá um desespero silencioso. É como se o tempo jogado no lixo batesse sutil, num relógio esquecido em algum canto do quarto, que você só descobre quando está muito de madrugada e ao longe você escuta aquele tic,tac,tic,tac. Um batida que quase não existe. Você não sabe se é o tempo sendo contado pra você ou o seu coração contando você pro tempo. Um desespero sem cara de desespero. Mas que é desespero puro. A pior espécie dele.
Aquele tobogã da Bienal...que porra é aquela? Sofrer anda tão sem graça que mergulhar no vazio tem fila e casal de mãos dadas.
Tem três seguranças no andar vazio da Bienal. A vida anda tão sem graça que até o nada corre risco de ser roubado. Até porra nenhuma precisa de vigília. E eles com aquela cara brava, fechada. Uma cara familiar pra mim. Da pessoa que protege o nada como se fosse a única coisa que ainda restou. Um egoísmo em dividir o nada e ver ele virando alguma coisa.
Ai que dor. Que dor. Que merda. Que lixo. O andar vazio da Bienal tem cestos de lixos espalhados. A vida anda tão chata que nem o nada pode sujar. Eu queria ter gritado. Eu queria ter essa cara de pau. E ter berrado no meio do andar vazio da Bienal. Um grito de nada. Pior é que eu berrei. Berrei com o pior tipo de desespero do mundo. Meu silêncio, meu conformismo, minha aceitação, minha quase maturidade.
Eu tenho a impressão que a hora que eu chorar, vai ser das coisas mais tristes do mundo. Mais triste que aquelas crianças carentes correndo pelo vazio da Bienal. Mais triste que o sol frio entrando pelo vazio da Bienal. Mais triste que a mulher tirando foto do marido descendo no tobogã da Bienal. E aquela bandinha que fica embaixo do pão de queijo. E o velhinho com uma ave azul no ombro. Mais triste que os gringos tirando fotos com as crianças carentes correndo ao fundo do andar vazio da Bienal. No vazio cabe um monte de coisa, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lágrimas que inundam todos os meus andares vazios. A hora que eu chorar, vai ser o choro mais triste do mundo.

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[Tati B.]

Um comentário:

Little Demon disse...

Acho que já comentei isso com vc, nunca deixe as dores da vida te levarem pra baixo.
Quando apanhamos, não importa o quão forte tenha sido, viramos o rosto com o impacto, damos uma pausa pra sentir o ardor, pensamos, e reagimos!
A base da vida, pra toda ação tem uma reação, e cair, deprimir ou desistir não é reação, é falta dela!

Quero ver uns texto mostrando sorriso atravez das letras!

te cuida moçinha!